Atravessamos o rio Nam Khan numa canoinha típica da região. Antes de embarcarmos estavamos conversando com nosso guia, um ex monge que viveu 14 anos dentro do templo – (Wat).Poom é seu nome, um homem pequenino de olhinhos brilhosos e sorriso constante, contava dos hábitos diários da vida deles, desde a comida que deve ser oferecida a eles, pois os mesmos não podem cozinhar, até a metódica rotina dentro do templo.
Nós duas participamos de uma dessas oferendas às 5:50 da manhã, num ritual que encantou a ambas, num momento onde nítidamente apesar do escuro da noite, ficou tão claro para nós, como o doar e o permitir receber, esta sendo por nós esquecido.
Cada monge abrindo seu bauzinho de comida para esperar humildemente, que cada uma de nós depositasse uma pequena porção de arroz.
Fiquei imaginando as mulheres cozinhando esse” arroz de oferenda”, todos os dias, essa presença e doação.
Poom prosseguiu explicando detalhadamente o dia a dia dos monges, com calma ia respondendo nossas perguntas, explicava com tranquilidade como e porque deveria ser usada ( até para dormir) a tradicional roupa alaranjada, que colore nosso olhar a cada momento que andamos pelas deliciosas ruazinhas ao longo do Mekong, repletas de barzinhos, feirinhas noturnas de artesanato, templos, restaurantes, hotéizinhos, casas de massagens, onde uma massagem (divina) de 1 hr, custa US$5!
E foi a partir dessa coleta que nossa conversa versou sobre em como o ocidente precisa de tanto para sobreviver, claro sem entrar em méritos político – econômicos; estavamos divagando sobre os excessos, a forma que necessitamos, ou criamos e verdadeiramente acreditamos na necessidade de termos (?) mais.
Não conseguimos reciclar nossas necessidades, desejos, compreensōes e o excesso de acúmulo não nos faz mais inteiros ou mais felizes. Ao contrário, nos faz mais escassos.
Escassez de afetos genuínos, delicadeza ao próximo, gentileza nas atitudes e gratidão.
A paz e brilho nos olhos que observamos em todos os habitantes que tivemos contato em Luang Prabang, com certeza não vem de nada que sobra ( literalmente), mas de algo que se recicla e reabastece a alma e o espírito.
A tranquilidade que vimos nas mãos experientes das mulheres em seus teares, das crianças brincando no rio, da serenidade dos monges, esta além do excesso.
Repousa num tempo próprio, onde há espaço para a vida no seu ritmo natural gerando esse estado harmonioso que paira sobre esse vilarejo encantado.
O novo, as sincronicidades que vivemos lá, o sentido de estar feliz pelo simples fato de termos olhos, ouvidos, olfatos e milhares de outros sentidos se apurando para receber algo tão diferente, como aquela cidadezinha se revelando à nós!