Estou terminando esta escrita na casa do nosso querido amigo francês JFF, em Ubud.
Deitada na rede da varanda, admirando os campos de arroz, extasiada com a beleza que circunda a casa de Jean.
Sons se sobrepondo acima das brumas, nos arrozais.
Todos em harmonia, galos, grilos, sapos…ahh agora vários passarinhos se fazem notar, para que eu não os esqueça jamais, jamais!
Levo da Ásia essas recordaçōes quase inefáveis.
Levo também, o aprendizado das possibilidades dos entrelaçamentos das culturas.
Levo as trocas de olhares, a delicadeza dos gestos de acolhimento de cada um.
Levo a experiência que deverá ser partilhada com cada ser que eu encontrar em meu caminho.
Levo a cultura do valor de fazer com as próprias mãos, do orgulho de receber os ensinamentos doados e transmitidos, de geração à geração.Que talvez, por nossa desconexão e agressividade ocidental, tenhamos nos afastado tanto.
Ainda levo comigo:
O novo aprendizado dos espaços – entre, aqueles que nos propusermos a viver.
Eles são de fácil acesso, é só sossegar o espírito e apurar os sentidos.
A simplicidade de cada família com seu templo ao fundo de suas casas.
A beleza dentro dessas casas e em torno delas, por mais pobre que sejam e que nossos olhos domesticados possam compreender.
As danças e rituais constantes, com tanta inocência, que me fez entender o que era de fato uma troca com abundância.
As oferendas diárias aos deuses, que para eles não faz diferença se depois de ofertadas (na frente das casas, lojas, templos; lindamentes adornadas em folhas de bananeira, meticulosamente dobradas em quadradinhos) serão ingeridas ou remexidas pelos inúmeros cachorros que vagueiam soltos pelas vielas.
E foi numa dessas cenas, depois de observar um cachorrinho se deleitar em revirar a ” canoinha de bananeira”, que senti como a impermanência, a entrega e o ritual realmente fazem parte do cotidiano deles.
Como a gente se apega tanto ao resultado ao invés de nos conscientizarmos das ofertas, da entrega de coração, dos rituais que não tem a primeira pessoa do singular no altar.
Como a gente ainda precisa de tanto ” aplauso” para cada gesto que fazemos!
De fato estamos percebendo (que bom!) que fomos nos afastando da conexão com o Nosso Campo Sagrado.
Um campo de infinitas possibilidades, mas com certeza com a reverência a algo que pertence à uma outra dimensão.
Uma dimensão que vibra em uma oitava superior, que ressoa dos e pelos encontros dos seres que habitam o mesmo teto, o mesmo planeta.
E só com muita simplicidade de espírito, sorrisos genuínos, gargalhadas soltas e muita atenção, delicadeza e gratidão em cada atitude, talvez, possamos experimentar e celebrar a vida com a leveza que eles experienciam.
Olhar com interesse para cada ser que nos habita, olhar para cada desconhecido com o olhar curioso das crianças que dias depois no mesmo mercado, mesmo sem termos nos encontrado mais do que uma vez, me chamavam de Lili!
E eu envergonhada, minutos após ser apresentada à alguém ,tenho dificuldade em lembrar!
Levo um pouco desse néctar de um povo que esta de fato conectado!
Obrigada a cada palavra registrada por todos vocês nesse blog, ele já é parte do compartilhar com consciência.
Obrigada Silvia, minha querida amiga de tantas jornadas, a fotógrafa e diagramadora desse Blog, por 33 maravilhosos dias de sintonia total!
* Serendipity – Em ingles significa o ato de descobrir algo revelador ao acaso.