Essa semana, por conta dos filtros coloridos de arco-íris nas fotos do Facebook e, que, a meu ver, é uma forma alegre de celebrar um muro a menos separando a humanidade dela mesma. Uma pessoa, que não é da minha roda de amigos íntimos, após uma conversa entre amigos em comum, me perguntou:
–“Por que você, que não é gay, apoia esse tipo de causa?”
Depois de explicar com três ou quatro exemplos irrefutáveis de empatia por pessoas que sofrem alguma forma de exclusão, ela ainda assim prosseguiu: –“Desculpe, mas acho uma hipocrisia, me responde como você reagiria se um filho seu fosse gay?”
Eu disse: –“Não tenho essa experiência para poder dizer. Então, qualquer resposta a essa pergunta, de algo tão sensível, e que não vivi na minha pele, seria hipotética ou superficial.”
Convivo com amigos que têm, como pais, essa experiência e, embora tenham acolhido seus filhos com amorosidade e os defendido de todas as possíveis gamas de preconceitos, sei da dor de saberem que seus filhos enfrentariam um longo percurso de julgamentos…
A dificuldade, segundo conversas que tivemos, advinha do enfrentamento social, repleto de codificações engessadas na falsa moral.
Pois, a meu ver, toda a forma de conceito passa por uma “degustação” intelectual, já o preconceito é mal digerido e fica parado na esfera do emocional.
Ela continuou: –“Acho uma baboseira essa gente toda mudando foto só pra fazer tipo. Tanta gente morrendo de fome no mundo, tanta guerra santa, e por que não decidem erradicar a miséria onde é preciso? Tanto jovem desajustado nas nossas ruas… E nada é feito.
Vê se alguém se move no Facebook, para tirar aquele bando de miseráveis dos botes no mar, que país algum quer…”
A coisa estava ficando difícil de acompanhar, aquele pensamento…
Então eu perguntei: –“Por que isso te incomoda tanto?”
–“Quer saber? Tenho um parente distante (!) que tenho certeza que é gay. Sai com mulheres, mas todos na família desconfiam que ele é gay. Ele é gay sim!”
–“E?”
–“Vai ficar impossível! Imagine agora: vai importar a moda americana e jajá você verá ‘tudo que é tipo’ (!), que nunca imaginou, fora do armário. Se ele fica como está, acho muito melhor para todos ao seu redor (!!!), sabe? Todos querem aparecer e, a meu ver, são estereótipos do feminino.”
Meu scanner imaginário automaticamente começa a me enviar relatórios a respeito dessa mulher…
Ela prosseguiu ainda mais: –“Veja bem, não tenho nada contra [oi!?] se são discretos. Mas vão ficar ainda mais exagerados, vai virar uma praga. Além do que não acho normal…”
Nessas horas, sempre acho que a idade tem uma vantagem enorme. Respirar fundo, fechar a boca e… concordar.
Mas filha de Iansã não cala, não!
Perguntei: –“Você não acha que toda a forma de repressão faz exatamente isso que teme? Se seu (longínquo) primo, não pode ‘sair do armário’, e precisa ‘usar’ mulheres para manter a aparência, você que se considera feminista, não acha controverso? Se ele estiver livre para amar quem quiser, não será melhor também para as mulheres? Não se sentirão usadas, ou inferiorizadas, ou enganadas. É um avanço para o feminismo também.”
–“Mas você disse que não era feminista.”
Eu, bocejando: –“Não, não disse isso. Disse que as mulheres, no afã de ganharem seu legítimo lugar, esqueceram da sua condição biológica.”
Isso porque, antes, em um grupo bem mais arejado e divertido, estávamos falando em interrupções prematuras, com hormônios, de mulheres ainda em período menstrual. E o mal, que elas não sabem por serem muito ingênuas e inseguras, que lhes causará em tempo futuro.
A mesma ingenuidade, que permeia a ideia do “saudável”, moderno e supereficiente parto cesariana, que é uma cirurgia e que os espertos supermédicos as convencem, em um piscar de olhos, e elas, em outro piscar, se sentem modernas, assistidas e atendidas, com o que há de mais novo no mundo. Isso versus um parto natural, ao seu tempo… Melhor para ambos, mãe e filho, do ponto de vista físico e emocional.
Esse é meu maior medo, um Império de mulheres infantilizadas, cuja manutenção demanda um estado narcísico em moto contínuo, portanto regredido, ao custo de uma lobotomização lenta e invisível, mas com sequelas futuras, bem reais, por comodidade delas mesmas, mas imputando a responsabilidade em algo externo. E, com isso, elas perdem um poder feminino absurdo, e não tem a menor noção disso!
Foi isso que falei!
Então, minha filha, voltando ao tema da sua pergunta inicial, eu torço para o dia em que, no Jornal Nacional – que raras vezes assisto e que foi o tema que desencadeou essa elucubração –, ao mostrarem a luta de um menino lindo que recebe a maravilhosa notícia que finalmente achou um doador de medula e está a caminho da sua tão desejada cura, um repórter (no caso, o Bonner) tenha a dignidade de não dizer, “os pais do garoto, um casal gay…”
Para mim, no final do arco-íris está mais do que um pote de ouro; está um tesouro que a gente esconde de nós mesmos: a verdade!