No início do ano, estive na avenida, no ensaio da escola de samba Vai Vai.
Quem já esteve no sambódromo, sabe que não tem como descrever a força da raça brasileira em estado de graça – e o carnaval é um desses momentos.
É um encantamento do começo ao fim, em comunhão com milhares de sorrisos, acenos, cantoria entusiasmada para que as alas sigam sambando!
Saímos com a alma lavada, e os pés e pernas naquela dor masoquista, prazeirosa.
Mas, ao término da apresentação, às 5h da manhã, na volta para pegarmos nosso carro estacionado em um único hotel próximo, nos chamou à atenção a quantidade de lixo esparramado pelas ruas. Lixo dos grandes, muito, muito mesmo. Nunca vi nada igual. Crianças, jovens, cadeirantes, idosos, tinham de desviar dos entulhos apinhados nas ruas e calçadas.
Os vendedores de cachorro quente, com seus carros estacionados no meio fio, tendo de trabalhar, madrugada adentro, nessa imundice.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o estado de normalidade que se abate sobre todos nós.
Sim, claro, após horas andando para chegar e para partir do sambódromo, onde o metrô fica distante, tem pouquíssimos ônibus, escassos estacionamentos com filas de mais de 2hs, ficam todos mais cansados para qualquer outra aventura que não seja a diversão.
O povo, servil e acostumado a sempre não ter, nada pode fazer.
Fiquei pensando nesses tantos “desvios” que o brasileiro tem de fazer e, ainda por cima, não serem “educados”, pois jogam tudo na rua!
A quem mesmo interessa manter isso?
Por que a prefeitura de São Paulo, com um representante do povo (eleito pelo mesmo), pelas inclusões sociais, pela educação para todos, não faz nada a respeito?
Onde ele estava?
Andamos por mais de 15 min sem nenhuma lata de lixo à vista!
Como isso é possível? Como não há recipientes para o lixo, em TODOS os lugares possíveis?
Fiquei com vergonha dos lixeiros no dia seguinte.
Com a grave, gravíssima crise hídrica, ter essa quantidade de lixo nas ruas é uma insanidade. Em locais inclusive com placas de possível região de alagamento?
Que país esquizofrênico estamos vivendo?
Sai de lá alegre pelo “meu samba de uma noite só”, e muito triste pelo samba diário de um povo massacrado e iludido.