Na livraria do shopping, a mãe diz para o seu filho adolescente: “filho, é muito caro. Dessa vez, não vai dar.” Na mão do menino, um livro.
O garoto ainda tenta: “mãe, eu já não pude comprar o tênis, nem a capinha do celular e, agora, não posso ter nem esse livro?
Reparo na mãe, uma pessoa simples. Ela olhava para o livro e para o filho, resignada.
Tentei fazer contato, mas eles não me olharam. Entendi que aquela mãe não podia dar ao filho o que ele pedia, por falta de dinheiro.
Eu tive o ímpeto de oferecer o livro, mas não sabia se deveria fazer esse movimento. Não queria piorar a situação e, de forma alguma, desmerecer a palavra materna.
Sou mãe, sei como dói um ‘não’ por escolha, imagina sem?!
Morri de pena do garoto. Aliás, de ambos.
Shoppings, definitivamente, não são um lugar democrático.
As vitrines estimulam, de maneira criativa, para ativar em cada um de nós todos os desejos de comprar absolutamente tudo – mesmo sem termos necessidade. E, pior, mesmo sem dinheiro. A não-democracia é uma bandeira visível apenas para olhos sensíveis. Ela está pendurada na porta de entrada, convidando os menos abastados a sair, antes mesmo de terem entrado.
Frequenta quem tem recursos financeiros. Quem não tem, e quer experimentar, que aguente as suas frustrações.
A mãe era sensata. Mas era pobre, também.
Sensata porque não se endividou para satisfazer o filho. A pobreza era o real fator limitante que evidenciava que aquele lugar não era para eles.
À noite, TV ligada, a mãe sofreria, mais uma vez, a humilhação ao observar o seu filho sendo bombardeado por desejos impossíveis de serem realizados. Todos os dias. Todos os dias. A mesma repetição masoquista que ecoa, para além dos cantos da sua casa, impregnando a sua alma desse limite. Essa impossibilidade de poder comprar um livro, um tênis, uma roupa, um carro… A vida real, encolhendo os sonhos do menino, todos os dias. Todos.
Todo dia é mais um dia sem. Ilhados na pobreza.