Certa vez, conversávamos eu e meu amigo querido, o escritor Carlos Knapp, que nos anos de chumbo ficou proibido de voltar à nossa pátria por quinze anos. Eu dizia a ele que me causava incômodo as pessoas usarem tão frequentemente o famoso “se cuida”, que a mim soava um pouco blasé, distante mesmo. Algo como um “então tá”, usado de forma automática para finalizar a conversa. Falei também sobre como me incomodava o uso da palavra “saudade” de forma tão banal. Agora é moda todo mundo terminar as frases com essa assinatura? Saudade é coisa séria dizia eu, enquanto ele sorria com seus aguçados olhos azuis.
Ele, mais sábio que eu, me dizia que era apenas uma assinatura carinhosa ao final de um diálogo, e que muitas vezes as pessoas não sabiam como se despedir e precisavam incluir algo que parecesse mais íntimo e gentil. E, claro, eu não percebi que ele sentiu muito profundamente a ausência de cuidados, que só em palavras ele poderia alcançar. Nem os filhos pequenos ele pode ver crescer.
E não é que agora eu me pego quase a todo momento desejando verdadeiramente que as pessoas se cuidem? E quando alguém termina uma frase com um “se cuide”, meu coração se aquece. E a palavra saudade… nem preciso falar.
Acho que tenho tido saudade até de quem eu não conheço. Minha mãe dizia: o mundo gira e a Lusitana roda. Nada como a experiência na própria pele.