Ei, Psiu… É, você! Sim, sim, não olhe para os lados, é com você mesmo. Você que parecia meu amigo, mas em nenhum momento, entre os dias 7, 8, 9 de outubro, me mandou uma mensagem de solidariedade. Você sabe da minha relação afetiva com Israel, sabe dos meus parentes que vivem lá, dos meus amigos. Teu silêncio diz muito sobre você. Pior, você só se manifestou depois do dia 10, quando Israel entrou em Gaza. Ah, mas Israel…
Sim, fiquei tentada a te mandar algumas matérias e vídeos, mostrando o que os judeus do mundo todo estão sentindo, mas não o fiz. Sabe por quê? Porque você podia ter sentado comigo e conversado. Sim, eu sou judia, moro longe de Israel, mas essa terra mora no meu coração. Não sou apoiadora de políticas extremistas. Sou fervorosamente contra à política do atual líder. Não queremos ver inocentes mortos, de ambos os lados. Sim, o sentimento é ambíguo. Mas nada é apenas o que as mídias das redes sociais insistem em mostrar, ou não mostrar. Todo judeu sabe o que é viver oprimido. Você sabe o que o ser oprimido do judeu em Israel faz quando é mais uma vez ameaçado de extinção? Não sabe. Israel, é o único porto seguro para um judeu. Eu vi seu posicionamento quando da entrada em Gaza. E, ainda que eu possa concordar na essência sobre a questão da proporcionalidade, não se pode saber nada sem entender a história e a psicologia de cada povo.
O povo judeu é dilacerado no espírito, um povo que ficou sem rumo por tantos e tantos anos, saindo de um lugar para o outro, inseguros, perseguidos, sem terra, sem chão.
Você tem visto algum cidadão russo ser perseguido por causa da política ensandecida do Putin? Não, que bom! Mas isso não acontece com os judeus. Eles estão sendo perseguidos no mundo todo. Ah, mas Israel…
Sim, você podia ter me chamado para conversar, mas preferiu se informar por mídias sociais. Tem tanta coisa interessante para ler e formar uma opinião com base em conhecimento real. Mas você não quis.
Sim, eu te vi apoiando páginas que incitam o ódio aos judeus! As mesmas páginas que nunca se mexeram pela questão palestina. Nunca se incomodaram dessa mesma forma com a morte de centenas de milhares de inocentes de outras etnias. Ah, mas Israel…Isso já morava dentro de você, não é? Porque se não morasse você podia ter vindo conversar.
Rezo por uma solução de paz. Caminhei e estive com a coordenadora do grupo Women Wage Peace em Jerusalém. Eu vi a foto de uma palestina e uma judia abraçadas aos prantos no enterro da Vivian Silver, a pioneira na criação desse grupo, morta aos 75 anos no seu Kibutz pelo Hamas. Uma pacifista, idealista, que acreditava na possibilidade de convivência entre a Palestina e Israel. Chorei todas as dores que pude sentir pela vida de tantos. Vivian era a imagem e a realidade de um trabalho pacífico que unia palestinas e judias. Todos os dias estava em Gaza garantindo a saída de doentes graves para hospitais em Israel, que ironia sua morte.
Uma amiga que trabalhou no consulado em Israel já não acredita na paz. Eu não quero acreditar na crença dela.
Quando estive em Ramalah, ouvi verdades e mentiras. Conversei com jornalistas e humanistas que me explicaram alguns exageros de ambos os lados.
Há oito anos, assisti a uma mesa redonda com políticos e ativistas árabes e judeus em Fez – Marrocos. Ouvi com muita atenção o que a embaixadora da Arábia Saudita falou.
Para entender o que acontece na Palestina, ouvi com muita atenção a jornalista e escritora Amira Hass, uma judia brilhante que vivia em Gaza e hoje mora na Cisjordânia.
Acompanho há anos a filmografia de Amos Gitai. Sou fã de Amós Oz e como ele mesmo dizia: as pessoas optam por respostas fáceis porque as questões estão se tornando cada vez mais complicadas. Sou extremamente cuidadosa e criteriosa com a procedência das minhas informações.
Você não me procurou nenhuma vez. Não se abriu comigo e não acolheu minha dor que é enorme. Você me ignorou por eu ser judia. E isso dói muito mais do que você possa imaginar.
A paz só acontece quando podemos olhar nossas sombras repletas de convicções. E como bem disse Nietzsche: “homens convictos são prisioneiros”.
Psiu, você, sim você. Eu estou aqui de coração e braços abertos para conversar.