Dias atrás, saindo do filme 7 dias com Marilyn, numa conversa entre amigos, me perguntaram qual seria o perfil (caráter) psicológico da Marilyn- resolvi compartilhar esses pensamentos e ouvir também as opiniões de cada um.
Marilyn tem alguns componentes que contornam o seu caráter borderline. Caráter histérico, mas revestida de uma capa narcísica (no masculino, o fálico narcisista), numa voracidade glacial de desejo de reconhecimento – salta de conquista em conquista, tentando se provar e até se convencer que consegue seduzir a todos. No caso de La Monroe, com bastante sucesso, pelo menos no mundo externo.
Marilyn se torna um produto auto-fabricado, através da importação do desejo alheio – fama, sexo, poder, política. Toma para si a missão de provocar no outro o que acha que é esperado dela – aquilo que tanto busca para terminar o quebra-cabeça de sua própria identidade, rota logo na infância, e que acaba por fim sendo a sua condenação.
Como todo narcisista, tem medo da finitude, no sentido de não poder controlar o que o futuro lhe reserva (vide o Retrato de Dorian Gray), esconde (como defesa) a verdadeira personalidade, necessitando constantemente do aplauso, da platéia, pois distante da sua auto-percepção, necessita que os outros confirmem aquilo que desconhece ou teme – não ser amada e não se sentir merecedora dos aplausos. Conquista e solta rapidamente, antes que seja desvendada sua fragilidade.
Há um hiato entre aquilo que demonstra e aquilo que percebe em si. Alimenta-se dessa força da conquista, mas nunca está nutrida, como na síndrome de Don Juan. Pois o desejo de reconhecimento é, ao mesmo tempo, visceral e oco.
No mito de Narciso, quem se presta ao papel da completude é a ninfa Eco, a que reproduz o desejo do outro a partir da sua própria carência; repleta de “buracos” (só existe eco onde existe o oco), onde só cabe o outro, ela mesma não existe e, se existisse, não serviria a ele.
Ambos têm algo em comum, mesmo na polaridade das suas personalidades – O Vazio. Atemorizante (quanto mais tenho, mais desejo e menos satisfeito fico), o medo da finitude e, ainda, de não serem percebidos, escutados, pois nem os mesmos sabem bem das suas falências, já que são infantilizados emocionalmente.
Marilyn precisava ser atendida em todos seus desejos, e uma vez contrariada, não absorvia o desafio com maturidade – reagia de maneira regredida, mimada e ofendida.
Não aceitam críticas (o outro não existe, lembram?) porque têm uma auto-percepção e auto-estima muito pálidas. Quaisquer desafios à imagem que tentam manter a qualquer custo são descartados e transferidos ao suposto agressor.
O espelho narcísico, pressentem, é extremamente frágil e solitário – uma alteração no físico ou uma deprivação de algum recurso ou desejo os deixam sem chão. A finitude do glamour pelo envelhecimento ou limites, tão temidos mas ainda adormecidos sob os véus do inconsciente, a levaram à própria destruição (excesso de tranqüilizantes e outros amortecedores da consciência).
Por fim, tragicamente, consegue o que mais desejou a vida inteira: depois de “agradar” a todos, de todas as formas, será lembrada na retina de cada um que a conheceu, de uma forma ou de outra, como musa, femme fatale,a mulher mais desejada de todos os tempos. E…Imortal!
Deixa de existir e passa a ser mito na plenitude de sua juventude. A lembrança será sempre de uma Marilyn sedutoramente jovem.
Deixa de viver como Narciso, mergulhando na sua própria imagem congelada no espelho do lago, afogando-se nas águas da solidão. Narciso é presa fácil de Eco e dele mesmo. Sua maior armadilha reside no seu maior medo: ser ele próprio o eco de uma voz que jamais é ouvida ou compreendida da forma que deseja.
Em última análise, estão atados ao nó que eles mesmos teceram para si, com os fios de sua própria história, tornando-se incapazes de amar.
Marilyn de uma graça, beleza e sensualidade ímpares, foi tão volátil quanto um perfume que paira no ar…mais precisamente -Chanel N*5…